quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Quando voltares a abrir os olhos, e estes brilharem, já não estarei cá (…)




Vandark, sinal de docilidade, ternura, concerteza, sinal visível, sentimental. Versátil, tinha os olhos cor do mar, via o mundo de múltiplas formas, e jogava a vida. No seu coração, resguardava o diário de memórias, que todos os dias passava. Simples, nos olhos do povo, constituído, na vida que o aguardava. Tinha uns lábios, cujos contornos perfeitos, e um tom de pele, castanho chocolate. Que aparentava beleza rara, ou simplesmente desconhecida. Interiormente, possuía as imagens rápidas, forçadas ao silêncio, do passado. Mais que um simples rapaz de tom de pele escura, era alguém perfeito, que passava, que vivia, e era disfarçado na invisibilidade. Como todos os adolescentes tinha muitos sonhos, mas necessário, realmente desejado, só tinha um: queria um amigo, para confiar, para poder chorar.
Sozinho, tinha perdido os pais pouco depois da nascença, não tinha irmãos, vivia com a sua avó, já muito idosa, e todos os dias, aguardava o medo do dia seguinte. Definia-se só, falava com o seu eco, interpretava a natureza, admirava todos os seres vivos, independentemente da raça, ou da cor, e como herói, tinha o silêncio, por ser o único, que não magoa com palavras.
Fazia-se noite, mais um dia, chegava novamente o pensamento reforçado de medo pelo desconhecido, que sussurrava na sua cabeça, que atormentava, naquela rua, que só ele conhecia, realmente. Com o casaco apertado até ao pescoço, vaporava a gola, aquecendo o queixo, punha as mãos frias nos bolsos, e pisava os charcos se água parada existentes no caminho, que talvez, até estivessem a ser pisados pela primeira vez.
Os dias eram básicos, faltava às aulas, para poder analisar o mundo, conhecer aquilo que ninguém sabia, e desvendar o que já existia á anos, mas nunca ninguém reparou. Costumava refugiar-se no monte, num local húmido, revestido pela natureza, onde apenas existia as falas que as árvores nos dão, agitando fortemente. Sentava-se na pedra habitual, e via a paisagem mais bela da cidade, onde se inspirava e abria o seu grande dom, desenhava o sentimento. Para além de traços, simples riscos a carvão no papel branco, havia uma mão cuidadosa, que aperfeiçoava todas as curvas e inclinações. Quando o sol se punha, e desaparecia, guardava aquele ao qual interpretava como segredo, e percorria novamente, o caminho, marcado, para casa, deixando lágrimas, de solidão, lágrimas de esforço e incompreensão que marcavam, no caminho. Ao fim da rua, encontrava-se uma luz, a qual ele admirava, como ninguém, talvez, por cintilar, desde o primeiro dia que a viu. Comparava algo tão insignificante, á sua vida, ao seu coração, que batia simplesmente por ritmo cardíaco.
Repassando tudo novamente, de manhã bem cedo, quando o suposto seria chegar ao local onde costumava desenhar, avistou algo. De repente, parecia não haver nada, e apenas restou o abanar dos arbustos pelo vento. Desta vez, desenhou a tom de lápis leve, o vento, os arbustos que escondiam o desconhecido, e a sombra do além daquele que parecia não se desvendar, ou simplesmente do nada. Quando acabou, almoçou o pão mole, que trazia na mochila, embrulhado no papel amarrotado, de já estar assim á algum tempo.
Ao anoitecer, quando se preparava para arrumar o seu desenho, pareceu-lhe ter ouvido uns passos nas folhas secas do carvalho que se situava por cima de si. Tentou ver no escuro, e habituou os seus olhos castanhos-claros, englobados numa circunferência amarela escura, constituinte da beleza daquele olhar, que se denominava, como a coisa mais bela, do mundo. Baralhado, o seu coração bateu forte, como nunca antes, mas sem saber bem porque. Apertou o punho, e sem saber o que fazer, manteve-se imóvel. Os olhos iam-se aproximando, mas continuavam fixos no seu olhar. Com aquela aproximação lenta, aparentou a necessidade de um abraço, de uma mão , amiga. Até que parou, mesmo em frente á sua face. Vandarck baixou a cabeça, e toucou lentamente sob o crânio daquele, que supostamente tinha pêlo, e aparentava a constituição de um lobo, pela conclusão tirada do tacto. Naquele momento, onde o único sentido foi o tacto, pareceu haver algo novo… Na negridão da noite medonha, nenhum deles teve medo, talvez, por um sexto sentido descoberto simplesmente neles, como algo mutuo que se inter-ligou, com o coração. Apesar de um ser animal selvagem, e o outro, um rapaz de pele escura que vivia da solidão, nenhum deles necessitou da visão, para avaliar, do faro, para respirar, da fala, para criticar, condenar, e tirar conclusões exteriores, aquilo ao que ambos estariam habituados. Inexplicavelmente, o lobo soltou um uivar forte, que parecia vibrar a imagem de lua cheia, e Vandarck soltou uma lágrima brilhantina, reflectida no brilhar do sol escondido pela mesma. Para além do medo, Vandark levantou-se lentamente, e sem olhar para trás, correu em direcção a casa, desta vez, deixando bem mais lágrimas no seu itinerário. Sentiu medo, de não conseguir controlar o que nele passou, apesar tudo, era como um sonho tornado realidade. Mas ao mesmo tempo, era tão anormal algo assim acontecer, e a sua cabeça não percebia nada do que se tinha passado. No caminho para casa, Vandarck avistou a luz cintilante, que desta vez, aparentava fortemente manter-se ligada bem mais tempo, como se renascesse. Trocou o olhar, e seguiu em frente sem reparar, que o lobo o tinha seguido até casa. Durante essa noite, dormiu com a vela de cera do quarto acesa, e quando abria os olhos, via o olhar do lobo nas radiações da vela.
O lobo, voltou para o local onde tudo aconteceu, cabisbaixa, com esperança que Vandarck voltasse. No dia seguinte, Vandarck levantou-se lentamente da cama, com receio e desconfiança do próprio silêncio, lançou o seu pé esquerdo no chão com vagareza, e pesou o tapete almofadado, que estava no lado da cama.  Docilmente tocou no cortinado de ceda que a avó lhe teria oferecido no seu aniversário. Os raios de sol amarelos brilhantes, que invadiam pela janela, iluminaram-lhe o olhar, e ficou como cego. Parecia, que mais uma vez o olhar do lobo lhe teria entrado no corpo, e o teria absorvido. Soltando um grito, forte, puxou com toda a força ambas as mãos, uma para cada lado, levando o cortinado de seda juntamente, desfazendo-o em pedaços. Incompreensíveis atitudes, Vandarck deixa-se cair sob a cama e eleva as mãos á cabeça, sem saber o que fazer. Com medo de ele próprio, passa horas em frente a uma parede branca, que nada lhe dizia. Pegou no lápis, e desenhou, algo diferente, desenhou traços fortes que mostravam os raios de luz presentes na vida dele, desenhou também um fantasma sobreposto na sua cabeça, e os olhos amarelos e castanhos-claros que ele decorou tão facilmente. Enquanto desenhava, cansado, poisou o lápis sob a cama, fechou os olhos durante algum tempo, e, quando os abriu, a vela de cera, ter-se-ia apagado, na escuridão, revia o olhar. Quando este pára, os seus ouvidos “ficam surdos” e ouve o uivar forte do lobo naquela noite, desta vez, apenas interiormente. Pela primeira vez, Vandark não saiu de casa durante o dia todo, e ainda se questionava murmurante a razão do porque de tudo aquilo.
O lobo, aguardava sentado na pedra do monte, com a cabeça erguida, reparando e, toda a natureza, e sentia a brisa leve que lhe elevava o pêlo. Num mero instante, as orelhas do lobo ergueram rapidamente. Ouviu o som de um tiro de cartucho das ondas sonoras infiltradas no seu tímpano, e lançou as suas patas para o chão, fazendo exercer os músculos traseiros das patas, que firmes e rápidos, o fizera correr com toda a força. Refugiando-se, no mato que lhe infiltrava a camada da pele, mantinha-se baixo, simplesmente usando o faro e a audição que permitia ter a certeza da aproximação dos caçadores. Passado algum tempo, sente a noite cair, os caçadores teriam ido embora, mas iriam voltar. O lobo, estava fraco e com fome e o rapaz não teria voltado. Nessa noite, o lobo saiu para caçar, algures perto da rua da cada de Vandarck, deixando restos e pistas do que teria passado. O sol voltava a nascer, e Vandack levantou-se rapidamente da cama, após ter reparado pela janela que mulheres na rua se queixaram de que haveria um lobo selvagem á solta. Vestindo-se á pressa, começou a correr em direcção monte, mas quando lá chego, restava as folhas que voavam das árvores, soltas pelo vento forte, o musgo húmido que era espremido a cada passo, e aquele aroma que há quando chove muito. Como se fossem procuras atraídas, ambos passavam por tudo, para poder rever um olhar, e no fim de tanto esforço, encontravam-se na solidão, rodeados pelo vazio, que nada lhes dizia, Vandarck imaginou o fim, a morte e não evitou… Deixou-se cair no chão com os joelhos no musgo húmido, sem crer, solta uma lágrima cristalina, redonda, que cai no topo de uma folha curvilínea, percorre-a e reveste-a com as suas características possuístes. Impaciente, reverente de toda a dor, chorou bem forte, poisou as mãos sob as pernas e apertou com toda a força, tinha a face lavada em lágrimas, ergueu a cabeça, e gritou bem alto: “-Dá-me o mundo, dá-me a vida, que nunca conheci”. Mutuamente, ou não, o lobo, longínquo sentiu tudo, como se fosse nele mesmo, sem pensar, soltou a força de animal que havia em si, e correu como ouço pelos vales e planícies, saltou sob muros, nadou atravessando o rio, e num suspiro, num momento, Vandarck abre os olhos brilhantes, e á sua frente vê o lobo. Este, com um olhar predador, que poisa na sua cabeça no ombro de Vandarck, deixando-se abraçar por todo o carinho. Dali, cresce o amor, cresce a razão de viver, acima de tudo, cresceram juntamente. Quando Vandarck lhe passa a mão no pêlo cinzento húmido da chuva, com tons prateados, e lhe enfrenta o olhar, o lobo passa-lhe a língua no rosto lavado em lágrimas. Nojento? Não. Seria o inicio de algo maravilhoso, quando Vandarck chora pela primeira vez de alegria, agarrado aquele que mutuamente era o seu melhor amigo. Incompreensivelmente, aparentam ambos, um falcão, que sobrevoava no céu negro, transformou as nuvens escuras em azul forte, como os olhos de Vandarck, e os raios solares que se comparam aos contornos do olhar do lobo. Na presença do silêncio, tudo interiormente se sentiu, quando o rio das chuvas se tornou límpido, reflectindo o sol. Quando a lágrima deixada por Vandarck que em tempos percorreu a folha brilhou bem forte, e se desfez, como um cristal. As horas passavam, e nenhum deles deixaria de interpretar o olhar que os absorvia, acabaram por adormecer ali, juntos, abraçados, sozinhos, e ao mesmo tempo tão seguros. Ao amanhecer, quando Vandarck acorda com o chilrear dos pardais que por ali vagueiam, encontra-se só, o lobo já não estaria lá. Infeliz, vagueia pelo monte, sozinho ou simplesmente acompanhado pelo seu ser, vê e revê todas as características que o mundo forneceu, e ninguém reparou, apesar de modificarem dia após dia. Nessa noite, o lobo foi atacado. Os caçadores furtivos em grupo, avistaram-no no monte e um deles atingiu-o numa perna. O lobo ferido, conseguiu fugir, mas não muito longe. Refugiou-se numa gruta e ficou lá até ao próximo amanhecer. No dia seguinte, quando Vandarck volta ao monte á procura do lobo, ouviu o seu uivar, fraco, de quem se sente fraco, e precisa de ajuda. Seguindo o som, acabou por encontrar o lobo ferido, deitado com a cabeça sob o solo e o pêlo encharcado de sangue. Teria a perna traseira bastante abatida, com cara de quem precisa de ajuda, mas não pede, tenta-se levantar, e forçar-se para se por a pé. Tinha o focinho com caminhos de lágrimas perdidas durante a noite e olhos brilhantes de chorar. Vandarck pegou nele, e levou-o para casa, sem saber o que fazer. Quando chegou, decidiu tentar curá-lo com uns desinfectantes e ligas, apesar de mancar bastante e não ter força suficiente, o lobo conseguia andar. Naquele dia, o rapaz escondeu o lobo em casa, e prometeu deixá-lo lá até ficar totalmente curado. No instinto animal, aquele que ninguém percebe, o lobo sentia que não merecia tanto. Via num adolescente, uma vida tão incompleta, que agora, se resumia á sua própria vida. Ao contrário do homem, o lobo pensou primeiro no seu amigo. Nessa noite, enquanto Vandarck dormia, saiu de casa, fraco e com a ferida infeccionada, abandonou-se ao fundo da rua, aquela que nunca ninguém teria percebido, aquela, que agora teria uma história. Fraco, o lobo deitou-se ali, ao fundo, sozinho, debaixo da chuva que caia, fortemente. E ao fim de algum tempo, deixou a cabeça bater forte no chão, fechou os olhos, e morreu. Quando Vandarck acorda a meio da noite, encontra restos de sangue no soalho do quarto, e o lobo já não estava ali. Correu, forte, em direcção aos pedaços de sangue e deu com o lobo ao fundo da rua, caído, no charco de água, em sangue, estava morto. Vandarck deita os joelhos no charco, e agarra-se ao seu amigo, implorando a Deus a vida dele. Desta vez, Vandarck olhou para o céu, e sentiu a falta da lua, sem compreender, reparou na luz cintilante que havia naquela rua á anos, cintilava mais devagar que nunca. Deixando-se abraçado ao seu amigo, a chorar, restou o ultimo olhar, desta vez sem o olhar do lobo, e quando se apercebeu, abriu os olhos pela última vez, brilharam pela dor, e ele já não estava cá. Vandarck, acabou por morrer de frio naquela noite, ao lado do seu companheiro. Dali, restou a luz ao final da rua, que cintilava cada vez menos, e se acabou por apagar, para sempre.

22 comentários:

  1. obrigada ;f
    é uma história, que a parte sentimental é toda verídica ;3

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  2. muito obrigada querida ;f
    este "texto" tem um toque sentimental muito especial ;x

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  3. de nada princesa :b
    percebe-se ao ler, e isso é bom. :)

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  4. passei uns 10min. a ler isto , mas sabes? valeu muito a pena , está lindo meu tesouro *.*

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  5. esta história tem alguma coisa a ver com o que se passou na tua vida? $:

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  6. tipo Maria, tem, com algumas partes que não são verídicas, mas sentidas sem duvida, e sim no seu conteúdo é verídica (:

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  7. Que texto tão bonito o:
    Melhor texto que já li, de todos os blogues que sigo! Parabéns, escreves muitooo bem, mesmo Tânia! Continua ;)

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  8. obrigada Margarida, mas acho que isso é um exagero, já vi textos excelentes ;#
    muito obrigada na mesma, és uma querida ;b

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  9. sim, ao teu ponto de vista é, porque secalhar segues blogs mais interessantes, mas eu estou a falar em relação aos que eu sigo, e disse mesmo a verdade.
    de nada, obrigada, tu também (:

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  10. não sou muito de seguir blogs sinceramente, quando calha lá me mandam links e eu vou dar uma vista de olhos, nada mais. és uma querida Margarida ;$$

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  11. pois, ent e dai que os ves xD
    ohh, obrigada, tu tb. mas só disse verdades $:

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